segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Carta às igrejas




Amados irmãos,

Graça e paz!

O Japão é composto de mais de 3000 ilhas. A densidade em algumas partes é de mais de 2.000 pessoas por quilômetro quadrado. A "roupa" (que mais parece uma enorme fralda) usada por lutadores de sumô é chamada de mawashi. Há mais de 1,2 milhões de famílias de mães solteiras. O Japão está em uma das áreas de mais terremotos do mundo. Existem mais de 100 vulcões ativos. Menos de 13% da terra é adequada para a agricultura. Mais de 80% dos japoneses afirmam não ter religião pessoal, embora a maioria participe de diversos rituais religiosos. Os missionários do Japão enfrentam muitos desafios, incluindo custo de vida, linguagem e complexidades da sociedade e da cultura.

Sou Daniel Charles Gomes, pastor presbiteriano ordenado há mais de quinze anos. Sou filho de missionários, Rev. Dr. Wadislau M. Gomes e Elizabeth Gomes, casado com a Márcia, pai do Davi Charles e da Ruth Eloisa. Estudei no Trinity Theological Seminary, em Indianna, EUA, onde completei o bacharelado em Teologia e o mestrado em Antigo Testamento. Além da experiência transcultural já adquirida na infância, e a fluência em algumas línguas, incluindo o Inglês, também tenho experiência com plantação de igrejas no Brasil e no exterior. Márcia cursou três anos do bacharelado em Teologia no Seminário Presbiteriano Brasil Central e se formou em Agronegócios pela Fatec de Mogi das Cruzes. Ela atua como professora de Educação Infantil e faz revisão de textos e livros para diversas editoras brasileiras. Fui enviado pela APMT em julho de 2014 ao Japão para dar continuidade ao trabalho de evangelização e implantação da Igreja Presbiteriana do Brasil Cristo é Vida. Davi tem quinze anos e estuda o primeiro ano do ensino médio. Ele ama música. Toca trompa e agora está engajado no aprendizado do violão. Ruth tem onze anos, cursa a sexta série do ensino fundamental. Também gosta da música, toca trompete. Ano que vem pretende se aventurar na escola japonesa.

Temos aqui a necessidade da propagação do Evangelho e a nossa disposição de servir ao Senhor e, para os próximos anos, fomos presenteados com o desafio de permanecer nesse campo missionário. Contudo, não podemos fazer esse trabalho sozinhos. Sabemos que muitas igrejas fazem parte dessa obra, contribuindo financeiramente e sustentando em orações. Gostaríamos de convida-los a continuar engajados na propagação do reino de Deus aqui na terra do Sol Nascente. Caso haja um responsável por missões, gostaríamos de ter esse contato para que mandemos informações mais específicas e mantenhamos uma comunicação mais rápida. Isso nos alegraria imensamente.

Nos meses de dezembro a março estaremos no Brasil para a complementação dos requisitos da APMT e divulgação do trabalho, visando estabelecer parcerias na obra missionária. Queremos que a igreja nos conheça mais de perto e também tome conhecimento do que temos feito no campo missionário. Com esse objetivo, abrimos nossa agenda a partir da primeira semana de janeiro para pregações, palestras, aulas, acampamentos ou qualquer encontro, com a finalidade de aprimorar a visão missionária.

Aguardamos ansiosamente por uma oportunidade de falarmos pessoalmente e continuarmos juntos na obra que o senhor colocar em nosso coração. Aproveito para ressaltar que as pregações feitas em nossa igreja estão disponíveis no facebook: Igreja Presbiteriana Cristo é Vida. Também mantemos informações do nosso trabalho no blog Família Gomes Japão e Ataduras e unguento.

No Senhor da Seara

Daniel, Márcia, Davi e Ruth.

sábado, 12 de setembro de 2015

A Tempestade Perfeita



Quero agradecer imensamente a todos os irmãos e amigos que oraram por nós enquanto esperávamos a chegada do Tufão 18 em nossa região. Muitos deixaram mensagens de apoio, dobraram os joelhos, se preocuparam, nos assegurando de que o que quer que acontecesse, não estaríamos sozinhos nem desamparados. Graças a Deus a passagem por aqui foi calma, trazendo apenas uma quantidade grande de chuvas. Estamos bem! As aulas foram canceladas apenas por precaução. 

Infelizmente, esse não é o caso de outras regiões do Japão. O noticiário tem mostrado o caus em diversas cidades, onde milhares de pessoas estão desabrigadas e muitos perderam a vida. Continuemos a orar pelas famílias que ainda estão em risco, sem lar, necessitando tanto de ajuda para suprir até mesmo as mais simples necessidades. Oremos também para que Deus nos dê meios de mostrarmos o seu amor àqueles que estão vivendo momentos nebulosos, onde Deus parece alheio aos acontecimentos. 

Quando um desastre acontece, sempre temos alguém para culpar. No caso das catástrofes naturais, chegamos até a dizer que Deus não tem poder sobre as forças da terra; nas enchentes do Brasil, o prefeito foi culpado ou o secretário de saneamento ou o governador ou a “presidenta”. Mas, quer saber de uma coisa, foram tempestades! E quando as tempestades desta magnitude se formam de surpresa, não há poder terreno que consiga prevenir ou nem mesmo remediar a contento de todas as pessoas. A fúria do temporal e a devastação que ele trouxe deixaram marcas profundas nas pessoas, nos familiares daqueles que morreram e no patrimônio perdido e levado por água abaixo, ou abaixo d'água.

Jesus também teve tempestades em sua vida. Ele e seus discípulos estavam num lago conhecido como Mar da Galileia. Um lugar rodeado de montanhas, e ao norte, o monte Hermom, o qual tem neve no topo. Muitas vezes, quando um vendo congelado deste monte se encontra com o ar quente e úmido da região da Galileia, um furor de energia tempestuosa acontece e as tempestades começam a cobrar as vidas e as coisas que se encontram por lá. Naquela tarde, enquanto pescavam, uma dessas tempestades veio repentinamente e acometeu o barco em que estavam. Seria interessante fazer os jogos de culpa naquela situação. Quem foi o culpado, o pescador que deu a ideia de irem pescar? Quem construiu o barquinho? Quem inventou o peixe e o trabalho a fim de que tivessem de se arriscar tanto? Nas nossas tempestades, não percebemos, mas queremos culpar tudo e todos, e, em última instância, colocamos a culpa em Deus. Adão fez isso, (... Foi a mulher QUE TU ME DESTES- Gênesis 3.12) e os discípulos de Jesus o culpavam por dormir durante o temporal.

Jesus se levantou e ordenou que as ondas cessassem. Mandou que o vento parasse e que os discípulos confiassem nele. Ele que, por meio da sua palavra, criou os céus, as montanhas, a neve da montanha, o vento frio que de lá desce, e o vento quente que vem ao seu encontro. Os problemas e temporais pelos quais passamos, e a solução para a própria alma, o seu Santo Espírito.

Temos algumas lições a aprender. A primeira é que as tempestades virão. O apóstolo Pedro nos lembra dizendo: “Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo” (1Pedro 4.12). Muitas pessoas discordam disso. Dizem que a vida com Cristo é uma sem problemas, mas Cristo nos garantiu aflições. Os discípulos estavam em choque quando se viram naquela tempestade. E chegaram até a questionar se Deus não protegeria o Messias. E quanto aos seus seguidores? Como algo assim poderia acontecer?

A Segunda lição é que Jesus acalma a tempestade. O grande problema para os discípulos, e também para nós, é que Jesus dormia durante o temporal. Ele descansava de ministrar às multidões, e se encontrava em paz, seguro de quem ele era e de quem ele sempre será. Mas, como nós, os discípulos interpretavam aquilo como uma falta de atenção ou descaso. Interessante que este é o único lugar na Bíblia onde encontramos uma citação de Jesus dormindo. Muitas vezes, lemos a respeito de Jesus acordado a noite toda em oração, e nos maravilhamos com o fato de que ele conseguisse ânimo para isso. Obviamente Jesus tinha de dormir mas, ironicamente, o momento que ele escolheu para registrar isso nos ensina sobre sua confiança e autoridade.


Então temos a terceira lição: Jesus controla a tempestade. Jesus exerceu seu poder por sobre a natureza e as tempestades da vida, assim como faz hoje; na hora perfeita, na tempestade perfeita. Deus nunca se apressa, e a razão disso, primeiramente, é que tempo e espaço residem nele. Segundo, como criador e controlador de tudo e de todos, Deus sabe o que fazer, quando fazer e como fazer. Ele não se prende ao nosso tempo. Mas em seu tempo, Jesus se levantou e ordenou o cessar das tribulações. Ele conhece e entende você e sua situação. Ele cuida de você. Porque Cristo, quando nós ainda éramos fracos, morreu a seu tempo pelos ímpios. (Rm 5.6). Porque os olhos do Senhor repousam sobre os justos, e os seus ouvidos estão abertos às suas súplicas... (1Pedro 3.12 a). Boa ideia seria descansar como Jesus, nos braços de Deus. 
Daniel e Márcia

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Pondo o lixo no lugar certo



Temos visto aqui no Japão algumas notícias sobre o Brasil. Às vezes a saudade aperta e ouvir o que anda acontecendo em nosso país nos alivia um pouco! Em meio às informações sobre chacinas, impostos velhos com nomes novos, muita chuva em alguns lugares e falta de água em outros, um fato corriqueiro e até mesmo comum aos brasileiros me chamou a atenção: Certa prefeitura deixou de pagar a empresa responsável pela coleta de lixo. A mesma parou de prestar o serviço e o resultado foi uma cidade inteira coberta de sujeira.
Nossa realidade no Japão quanto ao lixo é bem diferente. Quando chegamos aqui, ao registrarmos nossos nomes na prefeitura como moradores da cidade de Higashiura, recebi um kit composto de instrução sobre como coletar, limpar e reciclar o lixo, calendário com os dias de coleta, saco apropriado (cada cidade tem uma cor apropriada), perfurador de latas e um mapa com os centros de coleta mais próximos ao meu endereço.
No começo fiquei até zonza! Cada coisa tem seu lugar e cada morador é responsável pelo lixo que produz. Então, aprendi a lavar as latas e vidros e guarda-las (a coleta desses materiais acontece de 15 em 15 dias. Se não for lavado o cheiro e a sujeira no apartamento ficam insuportáveis), lavar e cortar as embalagens de papel, caixas de leite, suco, molhos etc e a separar as embalagens plásticas e de papel queimáveis e as não queimáveis. Toda segunda e sexta deveria depositar na lixeira do prédio o lixo de papel e restos de alimento. Quarta sim, quarta não os plásticos. Quinta sim quinta não os vidros, as latas e as garrafas PET. Cada vidro de cor diferente em uma caixa separada. As latas de aerossol precisam ser perfuradas. As garrafas PET sem os rótulos e as tampas, que devem ser jogadas em lixo separado. No começo é difícil se acostuma à rotina, mas depois fica tão natural, faz tanto sentido e facilita tanto não ter toda a sujeira por perto que não conseguimos mais fazer de outro jeito.
Nas ruas não temos latas de lixo espalhadas. Cada pessoa leva seu lixo de volta para casa. Ou deixa nas lojas de conveniência espalhadas pela cidade, as quais possuem lugar apropriado para isso. Nos grandes centros, os fumantes não podem fumar na rua, tem cabines próprias, logo, não se vê restos de cigarro pelas ruas. Poucas vezes vi caminhões de coleta de lixo pelos bairros.
No noticiário, os moradores reclamavam da falta cometida pela prefeitura e eles tem razão em fazer isso. O sistema no Brasil é diferente, os impostos são cobrados para que serviços como esse sejam prestados à população. Porém, penso que cada um poderia fazer sua parte para minimizar a situação. As pilhas de sacolas de mercado não precisavam estar espalhadas pelas ruas de cada pessoa fosse mais consciente quanto ao seu papel da redução, reutilização e reciclagem daquilo que usa.
Em bairros mais nobres a seleção e reciclagem de lixo já começou há algum tempo. Pena que isso ainda não tenha tido a adesão da maioria das comunidades brasileiras. Entendo que não é barato nem fácil mudar todo o sistema de saneamento para a redução e reciclagem do lixo, mas aquela prefeitura paga milhões por mês (por mês!) para que a empresa faça a coleta! Em quanto tempo o dinheiro investido na coleta responsável do lixo seria restituído à cidade? E, mesmo que demorasse, o que dizer do bem-estar da população e do planeta como um todo se um sistema menos agressivo ao meio ambiente fosse implantado?
Eu sei! Assim como acontece com as sujeiras do coração, é mais fácil maquiar a situação e achar soluções paliativas aos problemas que existem. É mais fácil resolver a situação imediata do que achar uma solução real.
Por aqui já chegamos a uma consciência quanto ao trato do lixo, mas o povo japonês ainda luta contra alcançar e tratar dos problemas da alma. Já aprenderam que é melhor ter o trabalho para que a limpeza seja verdadeira, mas ainda preferem as máscaras que encobrem a dor da desesperança e da falta de Deus.
Muitos deuses são adorados por aqui, numa tentativa de trazer respostas imediatas ou suprir a necessidade do cumprimento de rituais que deem um falso sentimento de dever cumprido, mas que, assim como muitas empresas que coletam o lixo de um lugar apenas para deposita-lo em um local menos inconveniente no momento, apenas disfarçam o vazio e a dor maior do coração.

Oremos para que os olhos dos japoneses sejam abertos, para que vejam e busquem aquele único que pode trazer alívio real e completo, aquele que é o pão e a água da vida porque “a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” e “aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna”.

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Casa Nova!



Há pouco tempo atrás compartilhamos em nosso informativo a necessidade de encontrarmos um novo local para nossa residência. Tínhamos apenas quinze dias para deixar o apartamento onde estivemos morando no último ano. Estávamos receosos quanto a isso, pois sabemos das dificuldades que os brasileiros encontram por causa de desconfiança que muitos japoneses tem quanto a estrangeiros. E, mais uma vez, Deus mostrou seu sorriso e sua graça para conosco.

Encontramos um imóvel à disposição na primeira imobiliária que fomos! Não apenas um imóvel qualquer, uma casa! Um lugar que atendia exatamente àquilo que queríamos. Deus é bom! Em pleno Japão temos um canto, com quintal, garagem (cabe nosso carro direitinho!), quarto para os filhos, tudo com espaço, o que é raridade por aqui! Além de estarmos com mais conforto, poderemos realizar os estudos bíblicos e reuniões da igreja com mais comodidade para todos.

As fotos ao lado mostram a rua da nossa casa (a de cima mostra a fachada). Realmente é bem apertada, passa apenas um carro por vez, e olhe lá que o carro tem de ser pequeno! Antes de estarmos à procura de outro local para morarmos, ficamos perdidos pelas ruas de Obu, e seguíamos as instruções do navegador do telefone para acharmos uma loja onde pudéssemos comprar tinta para nossa impressora. Passamos por essa rua tão estreita e vimos uma casa com um barco na frente. Daniel falou: "Já pensou morar num lugar assim, com tantas árvores e numa casa! Seria muito bom!" Admirávamos as casas grandes e bonitas, com muito verde ao redor, parques, além de toda a infraestrutura local muito organizada. Sim, Deus nos trouxe exatamente para o lugar que gostamos tanto. A casa com barco fica bem em frente à nossa, pertence à família Yamamoto, casal com dois filhos da idade dos nossos e muito simpático. Deus é bom! Nos deu não apenas o que precisávamos, deu mais, aquilo que desejávamos em nosso coração. Imaginem nosso espanto! Ficamos boquiabertos enquanto o corretor nos trazia ao local para conhecermos a casa que estava para alugar.
Agora, enquanto Daniel está no Brasil passando um tempo com o Lau e a Beth, estou pondo as coisas em ordem (aquilo que dá pra fazer sem o auxílio do marido), conhecendo as redondezas e me acostumando à nova rotina.
Pertinho de nossa casa tem um parque lindo, onde os filhos podem se distrair e refrescar de vez em quando. Parque aqui é coisa séria! Tudo é muito organizado e limpo. Tem chafariz onde os pequenos se divertem, campos, brinquedos, lugar pra churrasco, etc.
Nossa outra preocupação era quanto ao transporte escolar dos filhos, uma vez que nossa casa fica mais distante da escola. Mas mesmo esse detalhe foi cuidado por Deus. Eles caminham oito minutos e chegam ao ponto onde o ônibus busca os dois. Maravilha!

Agradecemos imensamente a todos que nos ajudaram com as orações e suporte para que pudéssemos alcançar essa vitória. Agradecemos imensamente também os irmãos que vieram nos ajudar com a mudança. Alguns trabalharam a noite toda e vieram nos auxiliar. Que Deus os abençoe grandemente.
Seguindo o exemplo que nos deu o apóstolo Paulo, "Por dois anos, permaneceu Paulo na sua própria casa, que alugara, onde recebia todos que o procuravam" (Atos 28.30), estamos de portas abertas para recebermos visitas, para orarmos juntos, estudarmos a Palavra de Deus ou sermos abençoados ao redor da mesa, seja pra refeição ou pro cafezinho.

No Senhor da Seara,

Márcia





sábado, 20 de junho de 2015

Igreja Cristo é Vida no Japão


















Informativo Família Gomes

Junho, 2015
O Japão é um lugar lindo, gostoso de se viver. As pessoas são muito educadas e podemos ver as coisas mais pequenas fluindo, com agilidade. Raríssimos são os casos onde enfrentamos filas ou burocracias para a resolução das coisas.

Ao longo do tempo, percebemos a desconfiança que os japoneses possuem quanto aos brasileiros que moram aqui. Isso porque durante a grande crise de 2008, muitos acumularam dívidas e abandonaram o país, sem se responsabilizar por elas, deixando carros abandonados no aeroporto e tudo o mais. Lembrando que o Japão é uma ilha e só teve contato com os ocidentais há uns quinhentos anos. Uma vez que Daniel é parte americano, sempre que precisamos usamos essa informação, pois os japoneses respeitam muito as pessoas dos EUA.

Márcia tem trabalhado part time em uma escola brasileira para ajudar com o pagamento da mensalidade da escola dos filhos e também porque isso abre portas para contato com outras pessoas fora da igreja. Eu tenho dado aula de inglês como forma de aumentar nossa renda. Aqui quase todas as pessoas, especialmente os brasileiros, trabalham em fábricas, em  turnos de doze horas, semana de dia, semana de noite, em revezamento, e não são funcionários contratados, ganhando por hora trabalhada e podendo ser dispensado a qualquer hora. A maioria ainda faz hora extra, pois o objetivo principal dos brasileiros aqui é ganhar dinheiro. Quanto aos nativos (detesto essa palavra usada desse jeito!), geralmente pegam empregos melhores, como líderes nas fábricas e são funcionários contratados delas. Os brasileiros que falam japonês também conseguem empregos melhores. Normalmente os japoneses ganham mais que os estrangeiros e homens em geral ganham mais que as mulheres, mesmo que façam o mesmo tipo de trabalho.

Uma das grandes dificuldades daqui é que o japonês é muito fechado. É difícil fazer amizade e, brasileiro que somos, sentimos falta desse calor humano. Há muitas regrinhas rígidas que precisam ser cumpridas para garantir a segurança das pessoas, por exemplo, criança com menos de 12 anos não pode sair sozinha depois das seis da tarde e não é aceita na maioria dos lugares depois desse horário, mesmo em companhia dos pais. Alguns restaurantes não se importam em atender famílias, mas outros locais como cinema, karaokê  etc, não as recebem. Outro exemplo, por causa do incentivo à individualidade de cada um, os pais não podem levar os filhos à escola. Desde os seis anos eles devem ir sozinhos, andando ou de bicicleta se moram longe. Coisas assim soam estranhas a nós, pois parecem cercear a liberdade de ir e vir que tanto prezamos. Mas para um país que sofreu tantas tragédias, conseguimos compreender a razão para o incentivo para a independência da criança.

O povo japonês é muito religioso e adora tudo. Vemos quase que um templo a cada esquina, e para as mais variadas criaturas e objetos. Porém, é bem fechado para o Evangelho. Menos de 1% da população é cristã, e isso incluindo católicos. Não há liberdade religiosa para cristãos e sim concessão para que o cristianismo seja praticado. A qualquer hora isso pode ser revogado pelo governo. A falta de confiança em estrangeiros e a individualidade de cada um são grandes barreiras para a pregação do Evangelho aqui. É barreira também o que se pensa a respeito do cristianismo, vindo das mais variadas formas, desde  um homem que pensava que adorávamos o coelhinho da páscoa e o Papai Noel, até pessoas mais realistas que, vendo o mal testemunho de mercadores do Evangelho e a falta de responsabilidade na administração de recursos e finanças por parte de muitos cristãos, até mesmo os mais sérios, rejeitam a Cristo como um todo.

Davi e Ruth gostam muito do Japão, apesar de sentirem saudade da família no Brasil. Eles estudam em uma escola brasileira. Também estudam japonês todos os dias e já se comunicam bem. Se adaptaram muito bem aqui, logo fizeram amigos. Os dois falam inglês e isso traz certo prestigio diante dos japoneses. No nosso prédio  tem alguns adolescentes japoneses que fizeram amizade com nosso filho mais velho por causa do inglês e o procuram para que ele traduza as coisas enquanto outro colega vai falando em japonês a resposta dele. E assim vão aprendendo.

Quando chegamos aqui nos disseram que na escola japonesa os professores batem e coisas assim. Por isso eles foram para escola brasileira. Nossa intenção era ficar apenas um ano aqui. Agora ficaremos mais, mas como já estão adaptados lá, não pensamos em fazer uma mudança. Vou copiar abaixo parte de um texto sobre a situação das igrejas no Japão. Foi publicado em 2010, mas ainda corresponde à nossa realidade hoje:

"Postado por Carlos Seiji Kavano em 25 janeiro 2010 às 23:18
ATUALIZAÇÃO SOBRE EVANGELIZAÇÃO JAPONESA
Por Rev. John Mizuki
Percentualmente as igrejas no Japão não cresceram nos últimos cinquenta anos. Elas estão lutando para quebrar a barreira de 1%, sem sucesso. Por que é tão difícil para as igrejas crescerem no Japão, apesar da sobrecarga de trabalho dos pastores?
Se olharmos para os números, podemos ver alguns fatores que podem ter sido responsáveis pelo não crescimento das igrejas.
1. Pouquíssimas igrejas- A média da população por igreja no Japão é de uma igreja para 16.222 pessoas, enquanto na Coréia é de uma igreja para 1.228 pessoas e na América é cerca de uma igreja para 1.000 pessoas. Para se cristianizar uma nação a média deve ser de aproximadamente uma igreja para 1.000 pessoas. Portanto, para evangelizar e Cristianizar 127 milhões de japoneses, cerca de mais 100.000 igrejas são necessárias e o Japão tem atualmente, somente 9.187, incluindo igrejas Protestantes, Católicas e Ortodoxas.
2. Igrejas muito pequenas - A média de membresia das Igrejas Protestantes no Japão é 73. A falta de crescimento da igreja não é tanto devido à falta de evangelismo. As igrejas estão evangelizando e batizando cerca de 8.000 por ano. Então, por que não estão crescendo? É porque elas estão perdendo tantos membros quanto estão ganhando. Perda de membresia é o maior problema das igrejas do Japão. Diz-­‐se que as pessoas entram na igreja pela porta da frente e se vão pela porta dos fundos. Diz-­‐se também que a média de tempo que o membro permanecer na igreja é de quatro anos. O problema é como fechar a porta dos fundos e conservar os membros."
A cultura cristã japonesa ainda está sendo construída. Por isso muitas igrejas aqui têm cara de igrejas americanas ou brasileiras. O modo mais fácil de se conseguir a concessão para pregar o evangelho aqui é através das igrejas americanas. Nossa igreja, por exemplo, por causa do difícil acesso aos japoneses, trabalha com brasileiros descendentes e pretende, através deles, alcançar os nativos. É preciso muita caminhada junto para que um japonês dê ouvidos a você. A barreira é imensa. Mas, temos contato próximo com igrejas reformadas nacionais e estamos aprendendo a trabalhar de um jeito que toque o coração do povo daqui.

No início de junho recebemos a visita do Rev. Obedes Jr., presidente da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT) e do Rev. Marcos Agripino, executivo da agência. Juntos, visitamos a Missionária Elisa Midori, em Toyohashi e o Pastor Dr. Woody Lauer, líder da Missão da OPC (Orthodox Presbyterian Church) no Japão. Foi tempo de renovar alianças e firmarmos parcerias que certamente ajudarão no prosseguimento do trabalho presbiteriano no país. Tivemos um tempo de comunhão e reunião com a Igreja Presbiteriana Cristo é Vida, onde ajustamos a  linha de andamento do projeto da APMT aqui no Japão. Continuando o contato com a OPC, Daniel esteve em Sendai, reunido com a liderança da missão americana da OPC, para ser entrevistado e recebido como missionário associado. Essa parceria visa facilitar a legalização do trabalho. Agradecemos ainda ao Rev. Ápio, de Hamamatsu, pelo apoio e parceria com  a Igreja Cristo é Vida.

Continuaremos aqui por mais um tempo. Ainda não estudamos os detalhes que envolvem um tempo no Brasil para maior preparo junto à APMT para retornarmos ao Japão. Esses detalhes serão trabalhados até julho.

Estamos à disposição para conversarmos mais. Qualquer dúvida você pode escrever e teremos prazer em responder. Nossa igreja tem uma página no Facebook, você pode acompanhar nossos trabalhos por lá: Igreja Presbiteriana Cristo é Vida.

Motivos de Oração:
• Sustento Pastoral - Atualmente possuímos 35% dos recursos necessários para nosso sustento
aqui. Esse montante vem da APMT e de algumas famílias que nos abençoam com suas ofertas.
Ore para que Deus levante mais pessoas para participarem do projeto da igreja no Japão. Seja
você mesmo um participante dessa obra!

• Moradia e local de reuniões - No próximo dia 15 deveremos deixar o apartamento onde
moramos. Já entregamos o local de reuniões da igreja. Ore para que tenhamos condições de
honrar com mais esse compromisso!

• Saúde - Meu pai, Rev. Wadislau está internado novamente. Sua saúde está bem fragilizada. Por
esse motivo, devo ir ao Brasil novamente para ajudar minha família. Ore para que tenha
recursos para fazer essa viagem!

Contribuições:
Banco do Brasil. Conta da APMT
Ag.: 0635-1
C/c: 7500-0
Código de identificação: 0,01
Exemplo: Para ofertar 100,00, depositar 100,01.

“Como, porém, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de que nada ouvirão? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? Como está escrito: Quão formosos são os pés dos que anunciam coisas boas!” Romanos 10.14-15

Um grande abraço,
Daniel Charles, Márcia, Davi e Ruth