sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Pondo o lixo no lugar certo



Temos visto aqui no Japão algumas notícias sobre o Brasil. Às vezes a saudade aperta e ouvir o que anda acontecendo em nosso país nos alivia um pouco! Em meio às informações sobre chacinas, impostos velhos com nomes novos, muita chuva em alguns lugares e falta de água em outros, um fato corriqueiro e até mesmo comum aos brasileiros me chamou a atenção: Certa prefeitura deixou de pagar a empresa responsável pela coleta de lixo. A mesma parou de prestar o serviço e o resultado foi uma cidade inteira coberta de sujeira.
Nossa realidade no Japão quanto ao lixo é bem diferente. Quando chegamos aqui, ao registrarmos nossos nomes na prefeitura como moradores da cidade de Higashiura, recebi um kit composto de instrução sobre como coletar, limpar e reciclar o lixo, calendário com os dias de coleta, saco apropriado (cada cidade tem uma cor apropriada), perfurador de latas e um mapa com os centros de coleta mais próximos ao meu endereço.
No começo fiquei até zonza! Cada coisa tem seu lugar e cada morador é responsável pelo lixo que produz. Então, aprendi a lavar as latas e vidros e guarda-las (a coleta desses materiais acontece de 15 em 15 dias. Se não for lavado o cheiro e a sujeira no apartamento ficam insuportáveis), lavar e cortar as embalagens de papel, caixas de leite, suco, molhos etc e a separar as embalagens plásticas e de papel queimáveis e as não queimáveis. Toda segunda e sexta deveria depositar na lixeira do prédio o lixo de papel e restos de alimento. Quarta sim, quarta não os plásticos. Quinta sim quinta não os vidros, as latas e as garrafas PET. Cada vidro de cor diferente em uma caixa separada. As latas de aerossol precisam ser perfuradas. As garrafas PET sem os rótulos e as tampas, que devem ser jogadas em lixo separado. No começo é difícil se acostuma à rotina, mas depois fica tão natural, faz tanto sentido e facilita tanto não ter toda a sujeira por perto que não conseguimos mais fazer de outro jeito.
Nas ruas não temos latas de lixo espalhadas. Cada pessoa leva seu lixo de volta para casa. Ou deixa nas lojas de conveniência espalhadas pela cidade, as quais possuem lugar apropriado para isso. Nos grandes centros, os fumantes não podem fumar na rua, tem cabines próprias, logo, não se vê restos de cigarro pelas ruas. Poucas vezes vi caminhões de coleta de lixo pelos bairros.
No noticiário, os moradores reclamavam da falta cometida pela prefeitura e eles tem razão em fazer isso. O sistema no Brasil é diferente, os impostos são cobrados para que serviços como esse sejam prestados à população. Porém, penso que cada um poderia fazer sua parte para minimizar a situação. As pilhas de sacolas de mercado não precisavam estar espalhadas pelas ruas de cada pessoa fosse mais consciente quanto ao seu papel da redução, reutilização e reciclagem daquilo que usa.
Em bairros mais nobres a seleção e reciclagem de lixo já começou há algum tempo. Pena que isso ainda não tenha tido a adesão da maioria das comunidades brasileiras. Entendo que não é barato nem fácil mudar todo o sistema de saneamento para a redução e reciclagem do lixo, mas aquela prefeitura paga milhões por mês (por mês!) para que a empresa faça a coleta! Em quanto tempo o dinheiro investido na coleta responsável do lixo seria restituído à cidade? E, mesmo que demorasse, o que dizer do bem-estar da população e do planeta como um todo se um sistema menos agressivo ao meio ambiente fosse implantado?
Eu sei! Assim como acontece com as sujeiras do coração, é mais fácil maquiar a situação e achar soluções paliativas aos problemas que existem. É mais fácil resolver a situação imediata do que achar uma solução real.
Por aqui já chegamos a uma consciência quanto ao trato do lixo, mas o povo japonês ainda luta contra alcançar e tratar dos problemas da alma. Já aprenderam que é melhor ter o trabalho para que a limpeza seja verdadeira, mas ainda preferem as máscaras que encobrem a dor da desesperança e da falta de Deus.
Muitos deuses são adorados por aqui, numa tentativa de trazer respostas imediatas ou suprir a necessidade do cumprimento de rituais que deem um falso sentimento de dever cumprido, mas que, assim como muitas empresas que coletam o lixo de um lugar apenas para deposita-lo em um local menos inconveniente no momento, apenas disfarçam o vazio e a dor maior do coração.

Oremos para que os olhos dos japoneses sejam abertos, para que vejam e busquem aquele único que pode trazer alívio real e completo, aquele que é o pão e a água da vida porque “a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração” e “aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna”.